segunda-feira, 26 de março de 2012

Parashá Tzav

“Shabat Hagadol”

No contexto da parashá desta semana, Parashá Tzav, na qual a Torá nos relata as obrigações dos sacrifícios, com tantos detalhes que chegamos a perguntar que relevância poderiam ter estes sacrifícios nesta era. Numa época em que os países “desenvolvidos” orgulham-se das suas sociedades protectoras de animais, na luta pelas espécies em perigo de exterminação bem como por outros interesses.

Mas interessante é, quando se trata do direito de um indefeso humano como o é o feto de uma mulher grávida; desde logo os direitos dos débeis se eliminam da consciência. Será que não lutamos pelos direitos alheios senão que queremos tranquilizar a nossa consciência através da protecção daquele que não nos incumbe?

Quando ouvimos que existem países onde a Shechitá foi proibida por crueldade, isso demonstra-nos o equívoco acerca dos conceitos, no qual nos encontramos. Poderíamos pensar que a Torá permite sofrer desnessáriamente, quando o Talmud nos relata que, Rabí Yehudá Hanasí recompilador da Mishná que se encontrava na sua liská do Sanhedrín, no Santuário, veio escapar um animal que estava a ser levado para o seu sacrifício e esconder-se debaixo da sua cadeira e Rabí Yehudá ao vê-lo dirigiu-se para o animal e criticou-o porque fugia do sacrifício para para o qual tinha sido eleito. Por isso ele foi criticado e castigado a doze anos de doença, por não entender que o pobre animal fugia da morte.

A Torá critica o não compreender e falar mal a um animal e não critica fazendo-o sofrer inecessariamente.

A Torá possui escalas de valores e põe o valor da vida humana acima do valor da vida animal, pelo que nos permitiu sacrificar a vida de um animal para a nossa comida, para os nossos medicamentos e até mesmo para realizar estudos médicos.

Na Torá não existem mistérios nem tabús, é posssível entender tudo e tudo deve ser entendido, pois a falta de conhecimento afasta a pessoa do seu bom cumprimento. O preceito da vaca vermelha realça mais do que nenhuma obrigação, a dificuldade de entendimento em tudo o que se encontra relacionado com a pureza espiritual com o próprio espírito. Tal como o material tem as suas leis físicas que o definem, onde apenas conhecimentos muito profundos chegam a entender com muitas limitações o comportamento das ditas leis e as forças que a dirigem, já que é mais o que é desconhecido que o conhecido, muito mais afastado se encontram de nós os conhecimentos das leis que regem o mundo espiritual.

Apenas mentes atrofiadas tentariam ensinar engenharia a um menino, assim como a Halachá critica quem tenta entender as leis da pureza espiritual e o seu comportamento, sem antecipadamente entender as leis que regem a vida quotidiana e material do humano.

Em dias tão indecisos como os actuais, que o mundo atravessa, devemos apoiar-nos na segurança que a Torá dá a quem a estuda e a alegria que obriga a Halachá, tal como nos disseram os nossos Sábios: “É uma grande obrigação estar sempre alegre” e “Não há alegria como o esclarecimento da dúvida”.

Este mês de Nissan, mês no qual se começa um novo ano como povo, deve ser um mês de mudanças, no qual o Chametz, símbolo de orgulho, se converte em Matzá, símbolo da austeridade. A Primavera, símbolo do florescimento da tristeza do Inverno, conduz-nos à alegria do Verão. Assim, como o Povo Israel começa o seu calendário neste mês no qual se converteu de um povo de escravos num povo de profetas, como disse o Midrash: “Viu a serva no Mar Vermelho o que não viu Ben Buzi em profecia”.

O Shabat anterior a Pessach é denominado na Halachá como Shabat Hagadol- o Grande Shabat- já que a saída do Egipto aconteceu na noite entre os dias 14 e 15 de Nissan, numa quarta-feira pela noite. O dia 10 de Nissan em Shabat, o Todopoderoso disse a Moshé:”E tomarão um cabrito por família...”. Todo o Povo de Israel fez segundo o que lhe fora ordenado, mesmo quando o cabrito era um dos deuses do Egipto. Um povo de escravos, impotentes sob o jugo do grande império, levantou/se contra o seu opressor apenas pela fé. É por isso que esse Shabat é denominado o Grande Shabat para nos ensinar o que a fé e a disposição podem fazer.

União, preocupação mútua, direcção, limitações, obrigações... fizeram do nosso povo “Am Segulá”, um povo capaz de ser a luz dos povos.

Shabat Shalom

http://www.mesilot.org/pt/parasha/tzav.htm

segunda-feira, 19 de março de 2012

Parashá Vayikrá

“E chamou a Moshé...” (Vaykrá 1:1)

“Vaykrá el Moshé...”, “E chamou a Moshé...”, com estas palavras começa o terceiro livro da Torá, quando por tradição a letra alef de vayikrá aparece diminuída para indicar-nos com que intenção o Todopoderoso se dirigia a Moshé, “Vayikrá” (com apreço). Era com apreço que o Todopoderoso se dirigia a Moshé. Mas porque é que, justamente nesta parashá a Torá nos recorda esta condição? Devemos encontrar a resposta no próprio tema que relata a parashá: “os sacrifícios”. O que é que significam os sacrifícios que Caim e Abel, filhos do primeiro homem, sentiram a necessidade de sacrificar e entregar ao Todopoderoso?

Nas parashiot da construção do Tabernáculo, como dos seus instrumentos e vestimentas, assim como na dos sacrifícios, a Torá estende-se em detalhes e por vezes repete uma e outra vez, quando determinados preceitos como os referentes ao Shabat, Tefilin ou Mezuzá, aprendêmo-las de indicações indirectas. Se recordarmos que o Tabernáculo foi ordenado apenas para os quarenta anos passados no desertos e que uma vez conquistada a Terra de Israel deveria ser construído o Beit Hamikdash, então ressalta a pergunta do porquê!

Sobre a construção do Tabernáculo está escrito: “Façam-me uma Casa e Habitarei neles: o Tabernáculo, os sacrifícios aproximam-nos do Todopoderoso, pois da mesma maneira que um imân atrai outro, em certas condições, a condição de oferecer, de dar, atair em certas condições a Fonte da bondade.

Advertiram-nos os nossos Sábios, que nada de mal sairá da caridade até que foi denominada com o nome de Shalom: ” e será o facto da caridade Shalom”. Os preceitos são os meios que nos aproximam a Ele, uma mitzvá (preceito) atrai outra mitzvá, e esta à seguinte, até que se cumpre o dito de Rabi Chanania Ben Akashia:”O Todopoderoso quis dar mérito ao Povo de Israel, portanto, aumentou a Torá e os preceitos, como está escrito: Ele procura dar-lhes mérito, então aumentou a Torá e engrandeceu-a”. Os preceitos foram um presente Divino para nosso bem, enquanto que o Tabernáculo com o seu serviço é uma realidade da convivência Divina com o ser humano.

Desde a destruição do Templo e perante a impossibilidade de realizar os sacrifícios, ficou-nos neste mundo apenas a Beit Haknesset e as Tefilot. O Talmud no tratado de Berachot diz: “Ao Todopoderoso apenas ficou neste mundo o lugar onde se estuda a Halachá (Torá)”. A sinagoga e o Beit Hamidrash são os espaços onde se encontra a Divindade. Que sensação de importância e de respeito devemos a estes lugares, com que temor devemos entrar neles e com que sensação devemos sair! Por desgraça o costume destrói toda a condição e o quanto a pessoa deve recordar dia após dia o lugar onde se encontra.

Seja a vontade Divina que estes dias de Nissan que se avizinham, convertam todas as nossas preocupações em alegrias e todas as nossas suspeitas em boas notícias, como está escrito: “Em Nissan foram salvos, em Nissan serão salvos”.



Rab. Shlomó Wahnón

http://www.mesilot.org/pt/parasha/vayikra.htm