O documento mais antigo que conhecemos é uma lápide com uma inscrição em hebraico, datada de 1297 (segundo leitura de Samuel Schwarz), e que pertencia à Sinagoga. Portanto, antes da expulsão dos judeus de Espanha, em 1492, vivia em Belmonte uma comunidade organizada. É plausível que o número de elementos tenha aumentado com a decisão dos Reis Católicos. Em Dezembro de 1496, D. Manuel I publica o Édito de Expulsão dos Judeus; em 1497, o monarca obriga ao baptismo forçado, à conversão os que permaneceram, voluntária ou involuntariamente, em Portugal. Serão os cristãos-novos, os marranos.
A instalação do tribunal da Inquisição, em Portugal, obrigou todos os judeus ao baptismo; também o casamento, os rituais funerários, os cultos no exterior dos lares seguiam a doutrina católica. A herança cultural judaica era transmitida oralmente, de geração em geração; mas aprendiam, como forma de sobrevivência, os rudimentos do catolicismo. A ``contaminação'' de fés era inevitável e com o decorrer dos tempos, a maioria dos que permaneceram no país adopta práticas sincréticas. Todavia, os anussim (convertidos à força) diziam-se e sentiam-se voluntariamente judeus.... e a vontade individual é uma dimensão que participa na construção da identidade. Não responderam de forma homogénea ao contexto inquisitorial: a) uns aderiram convictamente à nova fé; b) outros exilaram-se para continuar a praticar a lei de Moisés; c) houve quem se tornasse céptico, desiludido; d) muitos continuaram a judaizar clandestinamente, com graus de adesão e de conhecimento diversos, mostrando-se católicos no exterior. São os marranos que perpetuaram tradições sagradas, mitos e memórias comuns, produziram e reproduziram laços identitários.
Belmonte, tem-se repetido que os judeus que residem na vila ali se fixaram, vindos de Marrocos, após a decisão pombalina. A afirmação mais recente que envolve este domínio, encontrámo-la no livro ``Beira Baixa'': ``Nos finais do século XVIII estabeleceu-se em Belmonte uma grande colónia de judeus. Ocuparam um bairro designado por Marrocos que se transformou em judiaria fechada''. Trata-se duma legenda obviamente sucinta que sugere mais do que garante. Mas será possível falar duma ``judiaria fechada'' no século XVIII? A ``grande colónia de judeus'' estabeleceu-se em Belmonte porquê? Vinda de onde? Se eram judeus exilados que regressavam, quando e por que perderam sobrenomes hebraicos?
Na verdade, sabemos que encontrámos dezenas de processos no A.N.T.T. e que nos séculos XVI, XVII e XVIII, naturais e residentes do concelho de Belmonte conheceram os cárceres da Inquisição. O último processo que recolhemos é de ``Gracia Nunes, Gracia de Matos, cristã-nova, casada com Diogo Mendes Loução, lavrador, natural de Maçal do Chão, termo da vila de Celorico, e moradora na de Belmonte, Bispado da Guarda''; é condenada a ``cárcere e hábito a arbítrio''. O processo tem a data de 1750.
A designação do Bairro, Marrocos, (cuja toponímia teria origem na ocupação de judeus regressados do país com o mesmo nome) é anterior às leis pombalinas. Nos Livros de Décima, Contribuição Predial Rústica, Contribuição Predial Urbana, de Agências, nos registos de nascimentos, casamentos e óbitos, bem como nos Livros de Actas da Câmara Municipal, figuram nomes de ascendentes de membros que integram a comunidade actual. Eram judeus secretos, transmitiram uma tradição que se habituaram a ocultar, alternando períodos de maior clandestinidade, com outros de maior abertura.
É Samuel Schwarz que, em 1925, com a publicação do livro ``Os cristãos novos em Portugal no séc. XX'', inicia a desocultação da existência dos judeus belmontenses, para o mundo. Vindo para o concelho, em 1917, para dirigir a exploração do couto mineiro da Gaia, um dos mais ricos jazigos de cassiterite da Europa, ouve qualificar Belmonte como ``terra de judeus''. Afirma que ``Só depois de muitos meses de continuados esforços e ainda graças a um concurso de curiosissimas circunstâncias, conseguimos ser admitidos no seu grémio e assistir e tomar parte nas suas orações e cerimónias judaicas''. O encontro ocasional, em Lisboa, com o belmontense Baltazar Pereira de Sousa, homem de negócios, que ouvira apelidar de judeu e que levou à Sinagoga de Lisboa, foi a chave que abriu todas as portas. Regressado à vila, submete-se ainda a um teste: pedem-lhe que reze uma oração. Fê-lo em hebraico, mas entre os vocábulos que pronuncia, identificam Adonai. Estava aceite: ``É um dos nossos.''.
O tempo era favorável. A implantação da I República permitia confiança. Nos Livros de Actas da Câmara Municipal é notória a influência de membros da comunidade durante este período. José Henriques Pereira de Sousa e José Caetano Vaz, por alvará do Governador Civil de Castelo Branco de 13 de Outubro de 1910, integram a Comissão Municipal Electiva, o primeiro como Presidente e o último como vereador do pelouro de Caria, a segunda povoação mais populosa do concelho. O trabalho que desenvolvem, surpreende se o confrontarmos com o de Executivos camarários anteriores e posteriores. A criação de escolas, as medidas sanitárias, as obras de remodelação e restauro de imóveis, a elaboração de planos para a construção de estradas... contrastam com a habitual gestão rotineira que Actas das sessões camarárias doutros períodos registam.
O anticlericalismo, um dos traços da época, beneficiaria um grupo de pessoas que mantinha com a Igreja Católica uma relação de distanciamento. É neste clima que Samuel Schwarz trava conhecimento com a comunidade. No Porto crescia o movimento liderado por Barros Basto. Era o renascer do Judaísmo nas Beiras e Trás-os-Montes. O jornal Ha-Lapid vai noticiando a renovação de um saber e de um fazer cultivado durante gerações. O conhecimento da perseverança dos marranos portugueses através de A Obra do Resgate de Barros Basto, do livro de Samuel Schwarz, despertou o interesse do mundo judaico. Em Janeiro de 1926, Lucien Wolf vem a Portugal a pedido da Anglo Jewish Association, da Alliance Israélite Universelle e da Spanish Portuguese Jew's Congregation. Visitou Lisboa, Guarda, Belmonte, Caria, Covilhã, Coimbra e Porto. ``Constatou directamente que tais marranos não eram um mito, pois não só travou relações com eles mas também assistiu as suas reuniões culturais''.
O relatório que elaborou esteve na origem da criação de ``... um comité para ajudar os marranos portugueses''.
A 7 de Setembro de 1926, Paul Goodman, secretário do Portuguese Marranos Committee,informa Barros Basto sobre a constituição do referido comité. Entretanto, o jornal Ha-Lapid divulga a história, cultura e preceitos judaicos, noticia os acontecimentos relevantes da vida das comunidades (vida comunal) e de A Obra do Resgate. É perceptível o interesse em motivar os descendentes de judeus para assumirem a identidade religiosa e exorcizar o medo. Escreve: ``Nós que temos opiniões religiosas bem definidas inspiramos simpatia aos nossos adversários, entre os quais, apesar da diferença de credos, temos sinceras amizades''. Afirma mais Ben Rosh: ``Um adversário nobre e leal tem direito sempre ao respeito do seu antagonista (...). Todo aquele que, para não ser perturbado na sua digestão, se entrega a uma doblez de carácter, só merece dos combatentes das várias crenças o desprezo (...)''. Diga-se que este comportamento proselitista, de alguma forma, valer-lhe-ia desconfiança e incompreensão...
Mas a Obra do Resgate continuava. E sabemos assim que ``Em Janeiro (1927), seguiram para Belmonte, fazer uma visita aos anussim daquela vila, alguns jovens excursionistas da Associação de Juventude Israelita ``Hehaber'', que tiveram o prazer de ser recebidos em diversas casas criptojudias de Belmonte. Demoraram-se dois dias, e ficaram encantados com as amabilidades daquelas famílias, especialmente com as Sr.as e Srs. Pereira de Sousa (...). O Ex.mo Senhor Engenheiro Samuel Schwarz que se encontrava, na ocasião nesta visita em Belmonte, acompanhou os jovens do ``Hehaber'' (...). O Yom Kippur é celebrado, em 1928, na mesma localidade. Está presente, de novo, Samuel Schwarz que distribui exemplares do livro Kether Malkhuth, editado pela Comunidade do Porto.
Porém, a Covilhã que merece maior atenção. No dia 4 de Maio de 1929, numa reunião de várias famílias ``... em casa da Ex-ma Sr.ª D. Amélia Fernandes, bondosa e caritativa senhora cripto-judia, fiel observante dos ritos judaicos que lhe ensinaram seus pais foi decidida a fundação duma ``Comunidade legal judaica, de acordo com as leis da República Portuguesa''. Deliberam ainda que os estatutos seriam iguais aos da Comunidade do Porto. Dia 6 de Maio, em casa de José Henriques Pereira de Sousa, em Belmonte, decidem que o núcleo cripto-judeu da vila ficaria ``adstrito à Comunidade da Covilhã''. Em Caria, o líder do Movimento do Resgate é Francisco Mendes Morão.
Samuel Schwarz é, então, considerado como ``... o mensageiro do Resgate do distrito de Castelo Branco''; Ben Rosh di-lo-o ``... um amigo da nossa causa'' que, com Lucien Wolf e Paul Goodman ``... em todos os lares criptojudaicos devem ser memoriados e abençoados''.
Com a queda da primeira República, em 1926,o medo cresce , ``... está arreigado no espírito de muita gente'' Ainda assim, as reuniões de criptojudeus continuam. A 29 de Julho de 1929 é legalizada no Governo Civil de Castelo Branco, a Comunidade Israelita da Covilhã. Elegem corpos gerentes; Francisco Henriques Gabinete será o Presidente da Junta Directora; Samuel Schwarz manter-se-à Presidente da Assembleia Geral. A Sinagoga da Comunidade, Shaaré Kaballah (Porta da Tradição) é inaugurada em Setembro de 1929. O jornal refere a presença da M.me Oulman e de M.me Gradis que, na ocasião, oferecem 300 escudos ``para serem distribuídos por pobres criptojudeus''.
Na Yeshivá Rosh Pinah, do Porto, inscrevem-se jovens que deveriam ser os futuros guias espirituais das comunidades. Frequentada, entre outros, por 5 belmontenses, 4 fundanenses, 4 covilhanenses, aprendiam práticas e rituais da Lei de Moisés. Apesar de todo o dinamismo, o movimento de Barros Basto não vingou. Os processos militar e da P.I.D.E. arrastam à queda do projecto da Obra do Resgate. O nazismo, o estabelecimento do Estado Novo, as lutas de liderança entre judeus portugueses e os que no país se refugiavam, geram afastamentos, conflitos, a queda. Era o tempo das verdades indiscutíveis - Deus, Pátria, Família, Autoridade -; foi o tempo duma nova clausura religiosa por parte dos marranos.
Barros Basto e Samuel Schwarz verificaram que foram mulheres que memorizaram e transmitiram rituais e textos ou os escreviam. O medo reinstalara-se e das comunidades que, então, se organizaram na Beira e tiveram local de culto, em vários locais da região mantinha-se o acender das candeias com torcidas de linho; a Páscoa marcada pela Haggadah judaica (a limpeza meticulosa das casas, por exemplo); muitas orações; hábitos alimentares (o sangrar os animais, certos enchidos (alheiras) e, quem sabe?, doces conventuais que, não tendo leite na confecção, podem acompanhar pratos de peixe e carne); influências culturais (a ideia de Portugal como nação escolhida, o messianismo...).
A ausência de chefes religiosos, o distanciamento relativamente aos textos sagrados, redundou maioritariamente na assimilação dos judeus. Nos anos 90, nas comunidades beirãs da Covilhã, do Fundão, de Penamacor, de Pinhel sobrevive a memória duma ascendência judaica. Em alguns casos, independentemente da adesão à religião mosaica (podem ser mesmo católicos praticantes), repetem a afirmação identitária judaica, ou seja, assumem um judaísmo que se situa numa penumbra epistemológica.
Só Belmonte preservou um núcleo duro, construiu uma matriz cultural que abriu o caminho para o ``retorno'' ao Judaísmo ortodoxo. Apesar do medo. Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, belmontenses retiveram a existência duma ``lista'' elaborada por pessoas que eram manifestamente anti-semitas. Dizem, referindo-se ao suposto lider: ``... era um germanófilo. Ameaçava a comunidade com a divulgação e a denúncia na Alemanha, de pessoas da vila seguidoras da nossa Lei''.
Era um homem de poder e estas ameaças, a deslocação à Alemanha, garantiam obediência, conformismo e desencadearam muitos receios. Explicam: ``Às vezes fugiam e dormiam nas ``palheiras'' com o medo de serem apanhados''.
Durante o Estado Novo, também foram as mulheres as iniciadoras, as mestras do Judaísmo. É o tempo do prestígio das H'azzanot, das rezadeiras. A tradição que seguiam, fundamentada na memória, traíra conhecimentos e práticas. Mas a opção endogâmica favorecia a continuidade cúltica, o segredo face ao Outro. O anti-judaísmo e o anti-semitismo desenharam solidariedades entre os judeus, alimentavam a cadeia de transmissão de fazeres e saberes.
Com Samuel Schwarz soubemos que, desde a Inquisição, as candeias de Sabat nunca se apagaram, que o jejum de 24 horas de Yom Kippur se cumpria rigorosamente, que o Purim da Santa Rainha Ester não fora esquecido, que a Pessah era vivida com ``pão asmo'' ou ``dismos'', com ``ervas amargosas'', com a purificação das casas, reafirmando a esperança: ``Para o ano que vem, em Jerusalém''. Soubemos que os casamentos se realizavam primeiro, segundo a Lei de Moisés; percebemos a génese das histórias dos abafadores, quando conhecemos os rituais funerários que as mulheres realizavam antes de chamarem sacerdotes católicos e médicos, reiterando uma afirmação identitária judaica.
Na década de 80, quando foi possível o convívio com a comunidade, estes preceitos mantinham-se. Transmitidos oralmente, no feminino, contavam também alguns lares judaicos com o livro de Samuel Schwarz que guardavam ciosamente. Era o recurso certo, quando a memória traía. Judeus belmontenses, desde 1925, tinham à mão o manual do perfeito criptojudeu.
Assim preservaram rituais e textos de orações, tecendo uma coesão securizante que a partilha religiosa sustentava. Perpetuavam discursos de fé e invocavam a identidade de povo escolhido: ``... Adonai, nosso Rei e Rei de todo o mundo que escolheste em nós mais que todos, e nos deste a Tua Santa Lei (...)''. Louvavam ``... o Deus de Abraão, a constrição de David, a ciência de Salomão, a vitória de Gedeão, e o aviso que teve Lot, a felicidade de Jacob, o espírito de Elias, a caridade de Tobias e a paciência de Job''. Suplicavam: ``... que não sejamos presos, nem feridos, nem mortos, nem nas mãos dos nossos inimigos postos''. Manifestavam o desejo de ``... gozar a felicidade de Jerusalém...'', de aceder à Terra da Promissão.
F. Brenner: ``Concrétement (...) dans leur quotidien, on ne peut décéler aucun signe apparent de judaïsme...''. Não eram circuncidados, não possuíam livros sagrados, não falavam hebraico, não havia Sinagoga, nem rabinos. Mundo indecifrável para judeus que se habituaram a atribuir a pertença judaica a partir de critérios de que a prática marrânica se desvia.
Todavia, sempre guardaram tempos históricos com marca de sagrado. Guardar o Sábado é repetir o gesto divino; jejuar em Yom Kippur é lembrar as transgressões aos mandamentos judaicos, penitenciar-se; o Purimde Ester não fora esquecido porque a fraternidade de destinos, valorizou uma rainha que escondeu a identidade, mas foi salvadora do povo judeu; a Pessah é um elixir da esperança.
Em suma
A prática da endogamia, a fidelidade a uma filosofia, à Lei de Moisés, o anti-judaísmo e o anti-semitismo, a presença de Samuel Schwarz na vila, o querer ser judeu, a crença na pertença ao povo escolhido, na errância redentora e a espera messiânica garantiram a manutenção duma mundivivência, de um património cultural específico.
Os judeus de Belmonte são herdeiros do marranismo: homens desenraizados fruíram a sua religião, com carta de alforria; confrontados hoje com práticas rabínicas ortodoxas alguns aceitam-nas; para outros o peso da re-educação, da conversão foi insustentável.
Mantiveram a sua autarcia judaica, renunciando à religião oficial; são os neo-marranos a construir a riqueza polimorfa do Judaísmo.
A instalação do tribunal da Inquisição, em Portugal, obrigou todos os judeus ao baptismo; também o casamento, os rituais funerários, os cultos no exterior dos lares seguiam a doutrina católica. A herança cultural judaica era transmitida oralmente, de geração em geração; mas aprendiam, como forma de sobrevivência, os rudimentos do catolicismo. A ``contaminação'' de fés era inevitável e com o decorrer dos tempos, a maioria dos que permaneceram no país adopta práticas sincréticas. Todavia, os anussim (convertidos à força) diziam-se e sentiam-se voluntariamente judeus.... e a vontade individual é uma dimensão que participa na construção da identidade. Não responderam de forma homogénea ao contexto inquisitorial: a) uns aderiram convictamente à nova fé; b) outros exilaram-se para continuar a praticar a lei de Moisés; c) houve quem se tornasse céptico, desiludido; d) muitos continuaram a judaizar clandestinamente, com graus de adesão e de conhecimento diversos, mostrando-se católicos no exterior. São os marranos que perpetuaram tradições sagradas, mitos e memórias comuns, produziram e reproduziram laços identitários.
Belmonte, tem-se repetido que os judeus que residem na vila ali se fixaram, vindos de Marrocos, após a decisão pombalina. A afirmação mais recente que envolve este domínio, encontrámo-la no livro ``Beira Baixa'': ``Nos finais do século XVIII estabeleceu-se em Belmonte uma grande colónia de judeus. Ocuparam um bairro designado por Marrocos que se transformou em judiaria fechada''. Trata-se duma legenda obviamente sucinta que sugere mais do que garante. Mas será possível falar duma ``judiaria fechada'' no século XVIII? A ``grande colónia de judeus'' estabeleceu-se em Belmonte porquê? Vinda de onde? Se eram judeus exilados que regressavam, quando e por que perderam sobrenomes hebraicos?
Na verdade, sabemos que encontrámos dezenas de processos no A.N.T.T. e que nos séculos XVI, XVII e XVIII, naturais e residentes do concelho de Belmonte conheceram os cárceres da Inquisição. O último processo que recolhemos é de ``Gracia Nunes, Gracia de Matos, cristã-nova, casada com Diogo Mendes Loução, lavrador, natural de Maçal do Chão, termo da vila de Celorico, e moradora na de Belmonte, Bispado da Guarda''; é condenada a ``cárcere e hábito a arbítrio''. O processo tem a data de 1750.
A designação do Bairro, Marrocos, (cuja toponímia teria origem na ocupação de judeus regressados do país com o mesmo nome) é anterior às leis pombalinas. Nos Livros de Décima, Contribuição Predial Rústica, Contribuição Predial Urbana, de Agências, nos registos de nascimentos, casamentos e óbitos, bem como nos Livros de Actas da Câmara Municipal, figuram nomes de ascendentes de membros que integram a comunidade actual. Eram judeus secretos, transmitiram uma tradição que se habituaram a ocultar, alternando períodos de maior clandestinidade, com outros de maior abertura.
É Samuel Schwarz que, em 1925, com a publicação do livro ``Os cristãos novos em Portugal no séc. XX'', inicia a desocultação da existência dos judeus belmontenses, para o mundo. Vindo para o concelho, em 1917, para dirigir a exploração do couto mineiro da Gaia, um dos mais ricos jazigos de cassiterite da Europa, ouve qualificar Belmonte como ``terra de judeus''. Afirma que ``Só depois de muitos meses de continuados esforços e ainda graças a um concurso de curiosissimas circunstâncias, conseguimos ser admitidos no seu grémio e assistir e tomar parte nas suas orações e cerimónias judaicas''. O encontro ocasional, em Lisboa, com o belmontense Baltazar Pereira de Sousa, homem de negócios, que ouvira apelidar de judeu e que levou à Sinagoga de Lisboa, foi a chave que abriu todas as portas. Regressado à vila, submete-se ainda a um teste: pedem-lhe que reze uma oração. Fê-lo em hebraico, mas entre os vocábulos que pronuncia, identificam Adonai. Estava aceite: ``É um dos nossos.''.
O tempo era favorável. A implantação da I República permitia confiança. Nos Livros de Actas da Câmara Municipal é notória a influência de membros da comunidade durante este período. José Henriques Pereira de Sousa e José Caetano Vaz, por alvará do Governador Civil de Castelo Branco de 13 de Outubro de 1910, integram a Comissão Municipal Electiva, o primeiro como Presidente e o último como vereador do pelouro de Caria, a segunda povoação mais populosa do concelho. O trabalho que desenvolvem, surpreende se o confrontarmos com o de Executivos camarários anteriores e posteriores. A criação de escolas, as medidas sanitárias, as obras de remodelação e restauro de imóveis, a elaboração de planos para a construção de estradas... contrastam com a habitual gestão rotineira que Actas das sessões camarárias doutros períodos registam.
O anticlericalismo, um dos traços da época, beneficiaria um grupo de pessoas que mantinha com a Igreja Católica uma relação de distanciamento. É neste clima que Samuel Schwarz trava conhecimento com a comunidade. No Porto crescia o movimento liderado por Barros Basto. Era o renascer do Judaísmo nas Beiras e Trás-os-Montes. O jornal Ha-Lapid vai noticiando a renovação de um saber e de um fazer cultivado durante gerações. O conhecimento da perseverança dos marranos portugueses através de A Obra do Resgate de Barros Basto, do livro de Samuel Schwarz, despertou o interesse do mundo judaico. Em Janeiro de 1926, Lucien Wolf vem a Portugal a pedido da Anglo Jewish Association, da Alliance Israélite Universelle e da Spanish Portuguese Jew's Congregation. Visitou Lisboa, Guarda, Belmonte, Caria, Covilhã, Coimbra e Porto. ``Constatou directamente que tais marranos não eram um mito, pois não só travou relações com eles mas também assistiu as suas reuniões culturais''.
O relatório que elaborou esteve na origem da criação de ``... um comité para ajudar os marranos portugueses''.
A 7 de Setembro de 1926, Paul Goodman, secretário do Portuguese Marranos Committee,informa Barros Basto sobre a constituição do referido comité. Entretanto, o jornal Ha-Lapid divulga a história, cultura e preceitos judaicos, noticia os acontecimentos relevantes da vida das comunidades (vida comunal) e de A Obra do Resgate. É perceptível o interesse em motivar os descendentes de judeus para assumirem a identidade religiosa e exorcizar o medo. Escreve: ``Nós que temos opiniões religiosas bem definidas inspiramos simpatia aos nossos adversários, entre os quais, apesar da diferença de credos, temos sinceras amizades''. Afirma mais Ben Rosh: ``Um adversário nobre e leal tem direito sempre ao respeito do seu antagonista (...). Todo aquele que, para não ser perturbado na sua digestão, se entrega a uma doblez de carácter, só merece dos combatentes das várias crenças o desprezo (...)''. Diga-se que este comportamento proselitista, de alguma forma, valer-lhe-ia desconfiança e incompreensão...
Mas a Obra do Resgate continuava. E sabemos assim que ``Em Janeiro (1927), seguiram para Belmonte, fazer uma visita aos anussim daquela vila, alguns jovens excursionistas da Associação de Juventude Israelita ``Hehaber'', que tiveram o prazer de ser recebidos em diversas casas criptojudias de Belmonte. Demoraram-se dois dias, e ficaram encantados com as amabilidades daquelas famílias, especialmente com as Sr.as e Srs. Pereira de Sousa (...). O Ex.mo Senhor Engenheiro Samuel Schwarz que se encontrava, na ocasião nesta visita em Belmonte, acompanhou os jovens do ``Hehaber'' (...). O Yom Kippur é celebrado, em 1928, na mesma localidade. Está presente, de novo, Samuel Schwarz que distribui exemplares do livro Kether Malkhuth, editado pela Comunidade do Porto.
Porém, a Covilhã que merece maior atenção. No dia 4 de Maio de 1929, numa reunião de várias famílias ``... em casa da Ex-ma Sr.ª D. Amélia Fernandes, bondosa e caritativa senhora cripto-judia, fiel observante dos ritos judaicos que lhe ensinaram seus pais foi decidida a fundação duma ``Comunidade legal judaica, de acordo com as leis da República Portuguesa''. Deliberam ainda que os estatutos seriam iguais aos da Comunidade do Porto. Dia 6 de Maio, em casa de José Henriques Pereira de Sousa, em Belmonte, decidem que o núcleo cripto-judeu da vila ficaria ``adstrito à Comunidade da Covilhã''. Em Caria, o líder do Movimento do Resgate é Francisco Mendes Morão.
Samuel Schwarz é, então, considerado como ``... o mensageiro do Resgate do distrito de Castelo Branco''; Ben Rosh di-lo-o ``... um amigo da nossa causa'' que, com Lucien Wolf e Paul Goodman ``... em todos os lares criptojudaicos devem ser memoriados e abençoados''.
Com a queda da primeira República, em 1926,o medo cresce , ``... está arreigado no espírito de muita gente'' Ainda assim, as reuniões de criptojudeus continuam. A 29 de Julho de 1929 é legalizada no Governo Civil de Castelo Branco, a Comunidade Israelita da Covilhã. Elegem corpos gerentes; Francisco Henriques Gabinete será o Presidente da Junta Directora; Samuel Schwarz manter-se-à Presidente da Assembleia Geral. A Sinagoga da Comunidade, Shaaré Kaballah (Porta da Tradição) é inaugurada em Setembro de 1929. O jornal refere a presença da M.me Oulman e de M.me Gradis que, na ocasião, oferecem 300 escudos ``para serem distribuídos por pobres criptojudeus''.
Na Yeshivá Rosh Pinah, do Porto, inscrevem-se jovens que deveriam ser os futuros guias espirituais das comunidades. Frequentada, entre outros, por 5 belmontenses, 4 fundanenses, 4 covilhanenses, aprendiam práticas e rituais da Lei de Moisés. Apesar de todo o dinamismo, o movimento de Barros Basto não vingou. Os processos militar e da P.I.D.E. arrastam à queda do projecto da Obra do Resgate. O nazismo, o estabelecimento do Estado Novo, as lutas de liderança entre judeus portugueses e os que no país se refugiavam, geram afastamentos, conflitos, a queda. Era o tempo das verdades indiscutíveis - Deus, Pátria, Família, Autoridade -; foi o tempo duma nova clausura religiosa por parte dos marranos.
Barros Basto e Samuel Schwarz verificaram que foram mulheres que memorizaram e transmitiram rituais e textos ou os escreviam. O medo reinstalara-se e das comunidades que, então, se organizaram na Beira e tiveram local de culto, em vários locais da região mantinha-se o acender das candeias com torcidas de linho; a Páscoa marcada pela Haggadah judaica (a limpeza meticulosa das casas, por exemplo); muitas orações; hábitos alimentares (o sangrar os animais, certos enchidos (alheiras) e, quem sabe?, doces conventuais que, não tendo leite na confecção, podem acompanhar pratos de peixe e carne); influências culturais (a ideia de Portugal como nação escolhida, o messianismo...).
A ausência de chefes religiosos, o distanciamento relativamente aos textos sagrados, redundou maioritariamente na assimilação dos judeus. Nos anos 90, nas comunidades beirãs da Covilhã, do Fundão, de Penamacor, de Pinhel sobrevive a memória duma ascendência judaica. Em alguns casos, independentemente da adesão à religião mosaica (podem ser mesmo católicos praticantes), repetem a afirmação identitária judaica, ou seja, assumem um judaísmo que se situa numa penumbra epistemológica.
Só Belmonte preservou um núcleo duro, construiu uma matriz cultural que abriu o caminho para o ``retorno'' ao Judaísmo ortodoxo. Apesar do medo. Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, belmontenses retiveram a existência duma ``lista'' elaborada por pessoas que eram manifestamente anti-semitas. Dizem, referindo-se ao suposto lider: ``... era um germanófilo. Ameaçava a comunidade com a divulgação e a denúncia na Alemanha, de pessoas da vila seguidoras da nossa Lei''.
Era um homem de poder e estas ameaças, a deslocação à Alemanha, garantiam obediência, conformismo e desencadearam muitos receios. Explicam: ``Às vezes fugiam e dormiam nas ``palheiras'' com o medo de serem apanhados''.
Durante o Estado Novo, também foram as mulheres as iniciadoras, as mestras do Judaísmo. É o tempo do prestígio das H'azzanot, das rezadeiras. A tradição que seguiam, fundamentada na memória, traíra conhecimentos e práticas. Mas a opção endogâmica favorecia a continuidade cúltica, o segredo face ao Outro. O anti-judaísmo e o anti-semitismo desenharam solidariedades entre os judeus, alimentavam a cadeia de transmissão de fazeres e saberes.
Com Samuel Schwarz soubemos que, desde a Inquisição, as candeias de Sabat nunca se apagaram, que o jejum de 24 horas de Yom Kippur se cumpria rigorosamente, que o Purim da Santa Rainha Ester não fora esquecido, que a Pessah era vivida com ``pão asmo'' ou ``dismos'', com ``ervas amargosas'', com a purificação das casas, reafirmando a esperança: ``Para o ano que vem, em Jerusalém''. Soubemos que os casamentos se realizavam primeiro, segundo a Lei de Moisés; percebemos a génese das histórias dos abafadores, quando conhecemos os rituais funerários que as mulheres realizavam antes de chamarem sacerdotes católicos e médicos, reiterando uma afirmação identitária judaica.
Na década de 80, quando foi possível o convívio com a comunidade, estes preceitos mantinham-se. Transmitidos oralmente, no feminino, contavam também alguns lares judaicos com o livro de Samuel Schwarz que guardavam ciosamente. Era o recurso certo, quando a memória traía. Judeus belmontenses, desde 1925, tinham à mão o manual do perfeito criptojudeu.
Assim preservaram rituais e textos de orações, tecendo uma coesão securizante que a partilha religiosa sustentava. Perpetuavam discursos de fé e invocavam a identidade de povo escolhido: ``... Adonai, nosso Rei e Rei de todo o mundo que escolheste em nós mais que todos, e nos deste a Tua Santa Lei (...)''. Louvavam ``... o Deus de Abraão, a constrição de David, a ciência de Salomão, a vitória de Gedeão, e o aviso que teve Lot, a felicidade de Jacob, o espírito de Elias, a caridade de Tobias e a paciência de Job''. Suplicavam: ``... que não sejamos presos, nem feridos, nem mortos, nem nas mãos dos nossos inimigos postos''. Manifestavam o desejo de ``... gozar a felicidade de Jerusalém...'', de aceder à Terra da Promissão.
F. Brenner: ``Concrétement (...) dans leur quotidien, on ne peut décéler aucun signe apparent de judaïsme...''. Não eram circuncidados, não possuíam livros sagrados, não falavam hebraico, não havia Sinagoga, nem rabinos. Mundo indecifrável para judeus que se habituaram a atribuir a pertença judaica a partir de critérios de que a prática marrânica se desvia.
Todavia, sempre guardaram tempos históricos com marca de sagrado. Guardar o Sábado é repetir o gesto divino; jejuar em Yom Kippur é lembrar as transgressões aos mandamentos judaicos, penitenciar-se; o Purimde Ester não fora esquecido porque a fraternidade de destinos, valorizou uma rainha que escondeu a identidade, mas foi salvadora do povo judeu; a Pessah é um elixir da esperança.
Em suma
A prática da endogamia, a fidelidade a uma filosofia, à Lei de Moisés, o anti-judaísmo e o anti-semitismo, a presença de Samuel Schwarz na vila, o querer ser judeu, a crença na pertença ao povo escolhido, na errância redentora e a espera messiânica garantiram a manutenção duma mundivivência, de um património cultural específico.
Os judeus de Belmonte são herdeiros do marranismo: homens desenraizados fruíram a sua religião, com carta de alforria; confrontados hoje com práticas rabínicas ortodoxas alguns aceitam-nas; para outros o peso da re-educação, da conversão foi insustentável.
Mantiveram a sua autarcia judaica, renunciando à religião oficial; são os neo-marranos a construir a riqueza polimorfa do Judaísmo.
!!!! Parabens pa a Comunidade de Belmonte !!!
ResponderEliminarParabens para Miguel y su grande trabalho dedicado a o Judaismo Portugues - sefaradi y por todo lo que contribuye al Judaismo mundial.
Rabbi Elisha
No Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, o representante da CJB escreveu o seguinte (*):
ResponderEliminar(...) "Só queria fazer uma referência à carta que escreveram sobre o Samuel Shwartz, ele de facto descubriu cripto-judeus em Belmonte, mas também destruiu o Capitão Barros Bastos, por isso a presente existência da Comunidade Judaica de Belmonte não se deve nada ao Samuel Shwartz!!! Foi um dos destruidores de 16 000 cripto-judeus".
O fundador e editor principal do referido blogue que reune ex-combatentes da guerra colonail na Guiné (1963/74) respondeu o seguinte ao v/ comentário:
"Pessoalmente não me quero envolver, nem eu nem este blogue que criei, nos eventuais conflitos internos da Comunidade Judaica de Belmonte, ou das três Comunidades Judaicas existentes em Portugal (Belmonte, Lisboa e Porto, se não erro)...
"Sei quem foi o Samuel Schwarz (1880-1953) e sei quem foi o Capitão do Exército Português Barros Basto (1887-1961), este último vítima de um monstruoso processo de anti-semitismo, por parte do Estado Novo, nos anos 30/40.
"Mas não sei o que se passou eventualmente entre eles, para justificar o severo comentário do representante do blogue Comunidade Judaica de Belmonte...
(...) "Talvez o representante da CJB, nos queira elucidar sobre o que se passou depois, no tempo do Estado Novo... O que se passou exactamente ? Como justificar a grave acusação ou insinuação segundo a qual o Samuel Schwarz nã é apenas o descobridor da comunidade cripto-judaica de Belmonte em 1925, ele é (seria) também aquele que 'destruiu' (sic) o Capitão Barros Basto...
"Afinal, é também a honra e o bom nome de um homem que está em causa... Um homem que, de resto, era o pai da nossa amiga Clara Schwarz, membro deste blogue, desde o dia 14 de Fevereiro de 2010, data em que completou 95 anos (Transmitir-lhe-emos os parabéns que vocês lhe mandaram através do vosso comentário no blogue, no caso de não o ter lido).
Luís Graça, fundador, administrador do blogue
Luís Graça & Camaradas da Guiné
(*) http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/02/guine-6374-p5813-parabens-voce-79-clara.html
Mensagem de Carlos Schwarz, neto de Samuel Schwarz, com data de 18 do corrente, publicada no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (*):
ResponderEliminarAssunto: - Comentáro de um anónimo representante da Comunidade Judaica de Belmonte (CJB) ao poste P5813, de 14 do corrente:
1. Pelo Dicionário do Judaísmo Português (Editorial Presença) fica-se a saber que o Capitão Barros Basto foi acusado de homossexualidade através de duas cartas anónimas (tão execráveis são aqueles que se escondem debaixo do anonimato como os que caluniam irresponsavelmente os outros), facto que desencadeou um processo militar no qual ele foi absolvido, o que não impediu que ele fosse afastado do serviço pelo Conselho Superior de Disciplina do Ministério da Guerra, o que, segundo a referida obra, "lhe acabou com a carreira".
Como acusar então Samuel Schwarz de ter "destruído" o Capitão Barros Basto? Trata-se de maledicência ou pura ignorância histórica?
2. "A Comunidade Judaica de Belmonte não deve nada ao Samuel Schwarz", opina com toda a legitimidade o seu representante.
Opinião certamente pessoal, pois contraria o espírito da homenagem que a Câmara Municipal de Belmonte fez a Samuel Schwarz a 23 de Maio de 1993. na presença da numerosa comunidade judaica local.
(*) 19 de Fevereiro de 2010
Guné 63/74 - P5841: Controvérsias (67): Como diria o meu avô Samuel, há orações que os lábios murmuram, mas o coração não sente (Carlos Schwarz)
3. "Samuel Schwarz foi um dos destruidores de 16 000 cripto-judeus", diz o representante da CJB.
Que se pode dizer desta barbaridade? Embora estando aqui em Bissau, a cerca de 4.000 Km de distância, venho verificando que está agora na "moda" atentar-se, impune, gratuita e levianamente, ao bom nome e carácter das pessoas e à sua dignidade, sem que daí decorra alguma consequência.
4. Finalmente, o mau gosto, ia quase a dizer a hipocrisia, de se arranjar como pretexto o envio de parabéns a uma senhora de 95 anos, para denegrir a imagem do pai.
Como diria o meu avô Samuel, "há orações que os lábios murmuram, mas o coração não sente…"
(*) 19 de Fevereiro de 2010
Guiné 63/74 - P5841: Controvérsias (67): Como diria o meu avô Samuel, há orações que os lábios murmuram, mas o coração não sente (Carlos Schwarz)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/02/gune-6374-p5840-controversias-67-como.html
Mensagem de Joao Schwarz, neto de Samuel Schwarz, com data de 20 do corrente, publicada no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné :
ResponderEliminarAssunto: - Comentário de um anónimo representante da Comunidade Judaica de Belmonte (CJB) ao poste P5813, de 14 do corrente:
Que vergonha, que tristeza,
Como é que alguém falando em nome do CJB pode afirmar que Samuel Schwarz “destruiu 16000 criptojudeus”?
Quem se esconde por de traz da assinatura Comunidade Judaica de Belmonte? Quem será o mentecapto capaz de tal afirmação? Como se pode proferir uma tal enormidade? Fui obviamente consultar o livro do grande historiador Raul Hilberg “A destruição dos Judeus Europeus” para ver se la havia alguma referencia aos 16000 criptojudeus que o meu avô teria destruído. E curioso que o maior historiador do genocídio dos judeus não se refira a este “massacre” de criptojudeus.
Francamente quem este comentário escreveu não me parece gozar de todas as suas faculdades intelectuais. Será o comentário do CJB obra de um historiador de meia tigela? Será o comentário o resultado de um desvario de alguém que acaba de sair de um asilo psiquiátrico ainda não totalmente recuperado? Ou será o comentário a consequência de um trago a mais na taberna de Belmonte?
Pergunto a mim próprio se o comentário não terá sido feito por um descendente dos rabis da Comunidade Judaica de Amesterdão, aquela que em 1656 excomungou Baruch Espinosa um apóstolo da razão e da liberdade e um dos maiores filósofos mundiais
Que vergonha, que tristeza que a difamação esteja na moda mesmo no seio de comunidades religiosas. Lembro ao autor do comentário que segundo o código penal português “Quem, dirigindo-se a terceiro, imputar a outra pessoa, mesmo sob a forma de suspeita, um facto, ou formular sobre ela um juízo, ofensivos da sua honra ou consideração, ou reproduzir uma tal imputação ou juízo, é punido com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até 240 dias”
Peço portanto à CJB que me diga quem tal comentário escreveu. Terei o maior prazer em leva-lo a tribunal
João Schwarz (neto de Samuel Schwarz)